Liderança consciente: uma nova abordagem para o desenvolvimento de líderes
Desenvolver a liderança continua sendo fundamental para o crescimento das empresas. A mudança que vemos no mercado de trabalho, no qual atividades mais manuais vêm sendo automatizadas, e com isso surgem outras atividades que exigem mais conhecimento, intelecto, criatividade, coordenação, faz com que haja mais necessidade de uma liderança efetiva. No entanto, os programas tradicionais focados no desenvolvimento comportamental da liderança não têm trazido grandes resultados para as empresas. Isso sugere uma mudança de paradigma nas práticas de desenvolvimento organizacional.
As habilidades para a nova economia, estão relacionadas com a capacidade de se ter um olhar estratégico no estabelecimento de metas e influenciar as pessoas para que consigam coordenar as suas atividades (presencialmente e à distância) para o alcance dos objetivos. Pesquisas mostram que a liderança não é inata, mas sim um conjunto de habilidades comportamentais que podem ser aprendidas. No entanto os treinamentos convencionais não têm apresentado resultados tão efetivos. A maioria dos programas foca principalmente no desenvolvimento de comportamentos, mostrando ferramentas que a liderança deve utilizar para ser mais efetiva. Se não trabalharmos níveis mais profundos de desenvolvimento, que façam o líder refletir o motivo de querer ser líder, identificar características da própria personalidade que influenciam seu comportamento, e que muitas vezes são inconscientes, entender o impacto que causam na saúde emocional do liderado, e discutir sobre aspectos éticos e morais, que podem gerar resultados desastrosos na sociedade e meio ambiente, dificilmente teremos uma liderança positiva focada na sustentabilidade dos negócios.
Ter foco nas mudanças comportamentais da liderança é relevante, mas se não trabalharmos o caráter e a identidade do líder, provavelmente essas mudanças não se manterão. Pesquisas apontam que as habilidades associadas à liderança eficaz são: motivação do poder social, comunicação, pensamento crítico e criativo, autogestão, autocontrole, determinação, visão e competências interpessoais para resolver conflitos, ter espírito de equipe e colaboração. Essas habilidades têm em comum o autodesenvolvimento, ou seja, exigem um nível maior de maturidade. Isso nos mostra que o desenvolvimento da liderança está diretamente relacionado com o nível de desenvolvimento psicológico. As qualidades de liderança não são disponíveis sem maiores estágios psicológicos de desenvolvimento. Em estágios menos maduros de desenvolvimento, a pessoa ainda depende do ambiente social para ter uma sensação de identidade, valores e direção. Nesse estágio não é possível liderar outras pessoas. Apenas em estágios mais maduros de desenvolvimento, é possível desenvolver a autonomia, protagonismo na resolução de problemas e autorrealização. Forma-se uma identidade e determinação de valores pessoais que são intrínsecos, o que permite assumir a responsabilidade pelas iniciativas de sua própria vida, e consequentemente pela liderança de outras pessoas. Só se pode liderar a si e aos outros, quando se tem uma mudança de paradigma, da dependência de expectativas dos outros, para objetivos internos.
Podemos dizer então, que alguns programas de desenvolvimento da liderança estão relacionados com as habilidades, como por exemplo: como formular metas, delegar, dar feedback, se comunicar de forma mais efetiva, trabalhar melhor em equipe. Outros programas focam em um segundo nível de desenvolvimento, trazendo informações relacionadas com as características da liderança e como alguns aspectos pessoais do líder podem influenciar na forma como ele lidera. Esses programas também trazem a reflexão sobre a importância de liderarmos de forma diferente, conforme as características do liderado e o contexto do negócio. No entanto, uma nova abordagem de desenvolvimento da liderança que, além de facilitar esses dois níveis, aprofunda ainda mais, é a abordagem de desenvolvimento da consciência.
O termo “consciência” apresenta diversos significados, e nenhum deles é universal (veja aqui um vídeo sobre consciência – por Veronica Ahrens). A palavra consciência surge dos escritos latinos da frase “conscius sibi”, que se traduz literalmente como “conhecer consigo mesmo”, ou em outras palavras “compartilhar conhecimento consigo mesmo sobre algo”. Essa frase tinha o significado figurado de “saber que se sabe”. Consciência é então o estado de se estar ciente de um objeto externo ou algo dentro de si mesmo. Ser consciente significa ter um grau de testemunha do momento presente, e um grau de liberdade de escolha ao pensar, sentir, e interagir com as pessoas e o meio ambiente. Uma pessoa que tem um nível mais amplo de consciência passa a ter mais escolha sobre o comportamento que deseja adotar e a atitude que irá selecionar. O objetivo é tornar-se um observador do mundo interno e externo sem se envolver com ele, para que haja espaço na escolha da resposta ao evento que se apresenta.
A perspectiva de testemunho, que leva à capacidade de observar os mundos interno e externo sem se envolver com eles, é o que levará a pessoa a ter mudanças efetivas no seu comportamento. Trabalhar a consciência faz com que a pessoa se torne um observador dos seus padrões automáticos, identificando o que verdadeiramente a move. Abre espaço para questões sobre identidade pessoal, valores e prioridades, ampliando a compreensão de quem eu sou. Isso permite que essa autorreflexão também passe para o futuro, respondendo a questões relacionadas com quem eu quero ser.
Nessa abordagem de desenvolvimento, o líder é estimulado a ampliar a sua consciência em relação aos seus pensamentos, emoções, sensações em cada momento de atuação. Isso permite que ele identifique claramente quais são os aspectos da sua personalidade e comportamento que não facilitam o processo de liderança. Além disso, facilita a tomada de decisão e a escolha de cada resposta que ele deseja dar no instante em que se depara com uma situação. Focar em transformações fundamentais da consciência gera uma reflexão mais profunda sobre o papel do líder na empresa e na sociedade em que atua. Intervenções no desenvolvimento da consciência exercem uma influência positiva na psicologia, fisiologia, comportamento e ambiente do indivíduo. Podemos dizer que a atuação do líder está diretamente relacionada com o seu grau de consciência ou vigília.
Ter uma consciência ampla, permite acessarmos múltiplas fontes de informações simultaneamente, fazendo com que a nossa resposta seja mais assertiva, baseada em escolha e não simplesmente reagindo ao evento. A consciência começa com o trabalho de identificação do ego e a autoconsciência. Abrir a mente para estimular a reflexão sobre a vida, trabalho e empresa. Aumentar a consciência impacta diretamente na gestão das emoções, das relações, eleva o espírito cooperativo, e assertividade em relação aos objetivos que desejamos alcançar em nossas vidas. Permite identificar as estratégias potencializadoras e limitantes que utilizam na sua vida profissional e pessoal, conhecer os programas mentais que regem as decisões, podendo com isso tornar-se mais alinhados, íntegros e centrados nos seus valores.
Líderes conscientes buscam constantemente o autoconhecimento, e a evolução na sua forma de liderar. Eles têm clareza sobre a sua identidade e propósito, e desejam influenciar positivamente os ambientes e as pessoas à sua volta. A consciência na liderança, permite reconhecer aspectos da sua individualidade, o que permite uma maior compreensão e cuidado com os outros, tornando-se mais flexível a aberto para a diversidade, ampliando a sua inteligência emocional. É o que permitirá desenvolver caráter, moral e controle de impulsos.
Um líder consciente também conseguirá elevar a consciência nas equipes, o que envolve elevar a maturidade dos integrantes. Isso permite que os colaboradores percebam as suas próprias atitudes, e consigam agir de forma alinhada com a cultura desejada da empresa. Equipes conscientes conseguem abraçar um contexto de significado coletivo mais amplo do que focar apenas nos interesses e necessidades individuais. As relações são mais profundas e verdadeiras, baseadas na confiança e transparência.
A abordagem moderna do desenvolvimento da consciência permite fazer uma transformação mais profunda do ser humano. Se desejamos novos comportamentos nas empresas, lideranças, equipes e relacionamentos, é preciso elevar o nível de consciência dos envolvidos, trabalhando aspectos relacionados ao ego, construção de identidade e propósito. O objetivo do trabalho é o desenvolvimento do aspecto interno mais profundo da vida e não apenas no nível de superfície do comportamento. Oferecer atividades que expandem a consciência das pessoas sobre si mesmas, os outros e o mundo maior ao seu redor. As experiências relacionadas ao desenvolvimento do autoconhecimento fornecem uma mistura de estímulos sensoriais, cognitivos e emocionais que promovem a auto investigação. O objetivo é ensinar o líder a acessar e operar de forma mais consciente no nível individual e coletivo. Trabalhar a autoconsciência e o ego da liderança, permite que este reflita sobre a sua vida, seu trabalho o impacto que gera na empresa e sociedade na qual atua.