A CRIAÇÃO DE NOVOS HÁBITOS
Os hábitos envolvem um diferente tipo de funcionamento do cérebro, em que não estamos antecipando e julgando ativamente, mas utilizando automaticamente um script previamente aprendido. Formamos hábitos, para que o cérebro não fique sobrecarregado, tendo que tomar decisões em relação a cada comportamento que temos. No entanto, os hábitos muitas vezes se tornam tão arraigados que continuamos fazendo-os, mesmo que não nos beneficiem mais com eles.
Para que possamos interferir na mudança de um hábito, precisamos entender como formamos os nossos hábitos. Os hábitos podem ser definidos como uma sequência de atividades que juntas se transformaram numa ação única. Por exemplo, uma pessoa que tem o hábito de fumar, executa uma sequência de atividades (deslizar o cigarro do pacote, acendê-lo e inalá-lo) de uma forma única, pois já está no automático. Isso sugere que os hábitos são sequências vinculadas de comportamentos, armazenados como “pedaços”, que podem ser realizados sem pensar em cada etapa.
O início da formação de um hábito acontece no corpo estriado, que irá executar uma atividade de forma consciente, ativando o córtex pré-frontal e liberando a dopamina, que mantem a motivação para alcançar um objetivo. Nesse instante, o comportamento está voltado para a busca de um objetivo, que traga uma recompensa. O córtex pré-frontal atuando em conjunto com a dopamina está relacionado com uma fase de aprendizagem. Nessa fase o comportamento ainda não se tornou um hábito.
A repetição dessa ação faz com que o córtex sensório-motor passe a ser ativado. Nesse instante o hábito está formado, pois não envolve mais decisão, e sim apenas o movimento motor automático. Neurocientistas identificaram que nesse processo existe mais uma região envolvida, chamada córtex infra límbico, que se comunica com o corpo estriado. Num experimento com ratos, no instante em que eles foram executar uma atividade que já estava automatizada, o córtex infra límbico foi intencionalmente desativado, e automaticamente o hábito foi quebrado. Uma vez quebrado o hábito, os ratos logo formaram um novo hábito. Os pesquisadores mostraram que poderiam quebrar esse novo hábito mais uma vez, inibindo o córtex infra límbico. Para sua surpresa, eles descobriram que esses ratos recuperaram imediatamente seu hábito original. Isso levou os cientistas a discussão que quando os hábitos são quebrados, eles não são esquecidos, mas substituídos por novos.
Levanto esse conhecimento para os processos de coaching e desenvolvimento humano, notamos a importância de auxiliarmos os clientes não apenas na criação de novos hábitos, mas também nas estratégias que serão utilizadas para não retornarem aos hábitos antigos. Mostrar ao cliente como a neurociência explica esse processo é um passo fundamental.
por: Vernica Ahrens
Fonte: GRAYBIEL, A.M. & SMITH, K.S. How the brain makes and breaks habits. Scientific American, June 2014.